"L'important
c'est pas la chute...C'est l'atterrissage."
Primeira parte.
Simone:
Monsieur, s'il vous plait!
Zé Bacoro: E atão
diga lá menina?
Simone: Je voudrais
une “sandes mista”!
Zé Bacoro: Com
Manteiga?
Simone: Oui, merci!
Hoje de manhã chegou
à aldeia uma moça francesa no autocarro da carreira, parece que veio visitar um
tio que vive aqui numa comunidade ao pé da aldeia, ali pós lados da barragem.
Segundo me contou o Patacas, a moça foi tomar o pequeno-almoço ao central e
meteu conversa com ele - “Perguntou-me se eu sabia onde era a comunidade, eu
respondi-lhe que era ali pós lados da barragem”. O velho patacas, um
moçambicano, vive na aldeia há uns anos, trabalhava no café do Ti Joaquim Maria
em Maputo e quando a guerra acabou veio para Portugal com ele, ainda trabalhou
como empregado de mesa no Central mas gostava muito da pinga e o Zé Bácoro
pô-lo a andar. Desde aí, vive com a Dona Amélia, a senhora que me faz a bainha
às calças.
Há pouco conheci a
moça francesa, chama-se Simone Brel, parece que é sobrinha do famoso Jacques
Brel. Veio cá passar o verão, pois é, está um calor do cacete! Contou-me que
conheceu um casal, o rapaz era simpático e a moça tinha estado em França a
trabalhar, é obvio que só podia ser o jovem Turbo e a Paulinha. Foram os três
na caliquêra do Turbo deixar a Simone à comunidade. É uma jovem de pele morena,
cabelo curto, olhos amendoados castanhos claros, de pequena estatura e muito
conversadora. Esclareceu-me uma curiosidade minha, afinal os franceses tomam
banho regularmente, claro está. São seis da tarde, o sol está a descer, um
calor seco invade o largo da aldeia, os moços pequenos jogam à bola, um enverga
uma camisola do Rui Costa, número 10 do meu Glorioso, ok sou do Benfica, desde
pequeno. Lembro-me de uma vez o meu pai me ter levado à Catedral ver um
Benfica-Parma, ganhámos 2:1, o Paneira falhou um penálti.
Estou sentado na
esplanada improvisada do Central a beber uma mini Sagres com o Tirapicos, uma
grande personagem este mestre, era guitarra solo nos Deluxe! uma grupo de baile
formado por moços aqui da aldeia. As moças estremeciam e vibravam com os solos
eléctricos e o cabelo à Jim Morrison do Tirapicos, era um mulherengo, daqueles
com direito a autógrafos e tudo, agora deixou-se de músicas e é vendedor do
Circulo de Leitores. Por ali ficámos, bebendo minis e petiscando uns pica-paus,
à noite fomos jantar à casa do “Manitas” umas belissimas favas com um tinto
caseiro, percebem porque lhe chamamos “Manitas”? O Chef Michel não lhe chega
aos calcanhares. Acabámos a noite em torno da mesa com a malta, conversando
sobre o tudo e o nada, dá-me um especial prazer estes momentos de fraternidade
em torno de uma boa pinga enquanto o Tirapicos ensaia uns acordes.
Hoje de manhã,
encontrei o Jovem Turbo ao pé da Junta, perguntou-me se podia falar comigo,
acedi. Queria saber coisas sobre a moça francesa, desconfiei. Parece que a
Paulinha tinha passado a noite na comunidade a convite da Simone e o Turbo,
como bom manês que se preze, ficou cheio de ciumeira da moça. Disse-lhe que não
sabia de nada e que não tinha nada a ver com a vida dos outros, já me chegava a
minha. Abalou a grunhir qualquer coisa, não percebi. Mas fiquei com impressão
que o Turbo desconfia que a Paulinha anda de olho na moça francesa, é assim a
vida.
Recebi uma triste
noticia agora aqui no Central. O Zé Bácoro, entre lágrimas, balbuciou-me que o
Patacas tinha abalado, foi encontrado já sem vida hoje de manhã na cama pela
Dona Amélia, morreu durante o sono, a dormir. Há dias confessou-me que andava
com muitas saudades da sua terra e que tinha telefonado a uma irmã sua. O velho
Patacas aterrou na pista da eternidade a dormir, concerteza abalou de forma que
tudo lhe pareceu um sonho e neste voltou a Maputo, antiga Lourenço Marques e
viu-se sentado na esplanada do Clube Naval a beber uma Laurentina e a comer
camarão tigre sob a brisa perfumada dos jacarandás.
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