Segunda
parte.
Turbo: Anda cá Magana!
Paulinha: Aí o cacete!
Os gaiatos riam-se
agachados por debaixo da janela do quarto da Paulinha, enquanto o jovem Turbo
lhe fazia umas judiarias. Desconhecia estes rituais de acasalamento entre os
dois mas pareceu-me apropriado, vivemos no século XXI e há que conservar estes
bons costumes na intimidade. Passei na Mercearia do Mestre Reis, um velho
guerrilheiro nas andanças pelo mundo. Na sua Mercearia há um pouco de tudo,
ainda lá podemos encontrar autênticas relíquias como a Pasta Medicinal Couto, o
Restaurador Olex, as pastilhas pretas Cosmos, muitos produtos da minha
juventude. É um velho rijo, lembro-me de um episódio engraçado que se passou no
ano passado com uns sujeitos da nova pide, a ASAE. Era segunda-feira e eu
estava entretido a fazer o avio para a semana que começava quando entram dois
individuos com cara de pós-modernos engravatados. Um começou logo a atirar o
olho às prateleiras e o outro identificou-se como Sr. Inspector da ASAE ao qual
o Mestre Reis respondeu - Mestre Reis,
Comerciante desde há quarenta anos, diga lá se faz favor!
O que se passou a
seguir segue em diálogo:
Sr.
Inspector da ASAE:
Venho aqui inspeccionar os produtos e o equipamento que o senhor tem no seu
estabelecimento!
Mestre
Reis: Atão, fizeram-lhe
mal?
Sr.
Inspector da ASAE:
Desculpe?
Mestre
Reis: Ouça lá! Olhe à sua
volta! Eu aqui só vendo produtos regionais, de qualidade e certificados. Sou
Merceeiro há quarenta anos e nunca ninguém se queixou dos produtos que compra
aqui.
Sr.
Inspector da ASAE:
Mas eu tenho um mandato para fazer uma vistoria ao seu estabelecimento,
Portanto!
Mestre
Reis: Esparvoerado d'um
cabrão! Eu quero é que voçê enfie a vistoria nas nalgas e se ponha a andar
antes que lhe vá ao focinho!!
O Sr. Inspector da
ASAE saíu de mansinho da Mercearia do Mestre Reis e deslocou-se à esquadra.
Regressou, qual pavão escoltado à Mercearia e denunciou o Mestre Reis. Na semana seguinte, a Mercearia fechou e o Mestre Reis
reformou-se. Consta que o tal Sr. Inspector desapareceu, nunca mais ninguém lhe
soube o paradeiro. Olho por olho, dente por dente, costuma-se dizer, sendo nós
um povo pacifico claro.
Hoje à noite depois
do jantar, abri a bagaceira que tinha ali guardada, um dos últimos produtos
comprados na Mercearia, bebi-a afundando-me em pensamentos lá para cima para o
norte, onde fui feliz durante uns valentes anos. Bom povo aquele, parecido ao
nosso.
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